terça-feira, 23 de março de 2010
UMA TARDE
Ela usava um vestido verde. Estava desbotado, meio roto. A flor que trazia na mão direita já não exalava nenhum perfume. Andava a passos rápidos, ansiosa para vê-lo novamente. Até as ruas esvaziaram-se para que ela passasse sem esbarrar em ninguém. Pensou: - Vai dar certo! Desta vez vai dar certo. Tem tudo pra dar certo!! Parecia ser o dia perfeito – por que não seria?
Porém o que ela descobriu mais tarde é que sorrisos não são pinturas – eles se desfazem. O que teria acontecido dessa vez? Ah, o de sempre: fantasmas que retornam do além para assombrar aqueles que se julgam felizes e merecedores de tal condição.
Ela olhou para si mesma e percebeu que seu vestido não era tão verde. Não chorou nem sentiu raiva. Lamentou. Sim, ela lamentou. Não conseguia descrever ou definir o que sentiu. Ela sentou e esperou. Não, na verdade não esperou coisa alguma. Não havia o que esperar. Nunca houve. O sol nunca brilhara tanto e o céu nunca havia estado tão limpo. E a menina percebeu que as ruas pelas quais passou estavam vazias simplesmente porque era domingo.
O leitor deve estar se perguntando o que teria acontecido para que a felicidade da menina se esmigalhasse de tal maneira. Não, caro leitor, você não terá sua pergunta respondida. Não me tome por antipático ou algo assim. É que essa estória não é sobre o fato, mas sim sobre o antes e o depois. Afinal, o que realmente importa é o estado em que ficamos quando passamos do Nirvana ao Reino de Hades; do brilho de uma espada à dor do seu corte. O resto, no fim das contas, são os mesmos fantasmas, sempre.
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