quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

REI DE SI



Deixou toda dor em poucas linhas escritas, justificando sem ter justificativas, algo que, de alguma forma, eu já previa. Não é preciso ter fim para que tenhamos a certeza de que acabou. Em algum momento, o pranto do meu peito irá secar e ficarei em paz. Difícil é negar a impressão de que o coração fica mudo, de que ele não irá saltitar como criança alegre por saber que eu iria te ver. Dói tentar prever o futuro, sem que você faça parte dele, e a dor...é realmente pior para quem sente.
Esse sentimento irá passar.
Me sinto um super-herói que luta contra o seu inimigo outra vez - sai ferido mas, no fim, tudo fica bem...e ele fica sem a sua amada.


Por Hércules Bressy

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

EM BOA HORA


Sentada na cama, ela dobra sua roupa. A mala no chão, aberta, esperando para ser preenchida com seus pertences.Levaria só o que era seu, e mais nada. Demorava-se em cada peça que dobrava. Não por cuidado, mas por falta de ânimo. Seu entusiasmo havia se esvaído ao longo dos anos. Enquanto colocava cada peça de roupa na mala, lembrava de todos os momentos importantes daquela relação, inclusive – e principalmente – os mais tristes. Ela não se permitiu chorar. Lágrimas por que? Pelas mesmas coisas? Pelas tentativas repetidas em vão? Não, não choraria.

Fechou a mala com alguma dificuldade - estava cheia e pesada. Não eram só roupas e objetos pessoais que ela carregava: era também o peso da melancolia, de anos de frustações. Mas ela havia tentado – disso, tinha certeza.

Deixava para trás alguns objetos mas não estava certa se voltaria para buscar. Logo estaria longe dali. Bebeu um copo d’água e sentou-se à beira da cama, como se refletisse, mas logo se levantou e, com movimentos lentos, cruzou a porta pela última vez. Girou a chave na fechadura com a apatia dos que já não esperam mais nada da vida. Preferiu descer pelas escadas – morava no primeiro andar. Arrastar a mala por aqueles degraus era como um ritual, uma celebração do vazio, do nada.

Chegou à calçada e logo chamou um táxi. Entrou no carro e olhou pela última vez aquele prédio. Nunca havia reparado antes, mas o edifício era de um amarelo desbotado, sem vida. Era uma contrução um tanto antiga, e o tempo fora cruel com ele. “O prédio foi desgastado pelo tempo...teve sorte...” – pensou. O táxi arrancou enquanto ela ainda olhava o prédio. Sem vida. Ambos.

terça-feira, 23 de março de 2010

UMA TARDE


Ela usava um vestido verde. Estava desbotado, meio roto. A flor que trazia na mão direita já não exalava nenhum perfume. Andava a passos rápidos, ansiosa para vê-lo novamente. Até as ruas esvaziaram-se para que ela passasse sem esbarrar em ninguém. Pensou: - Vai dar certo! Desta vez vai dar certo. Tem tudo pra dar certo!! Parecia ser o dia perfeito – por que não seria?
Porém o que ela descobriu mais tarde é que sorrisos não são pinturas – eles se desfazem. O que teria acontecido dessa vez? Ah, o de sempre: fantasmas que retornam do além para assombrar aqueles que se julgam felizes e merecedores de tal condição.
Ela olhou para si mesma e percebeu que seu vestido não era tão verde. Não chorou nem sentiu raiva. Lamentou. Sim, ela lamentou. Não conseguia descrever ou definir o que sentiu. Ela sentou e esperou. Não, na verdade não esperou coisa alguma. Não havia o que esperar. Nunca houve. O sol nunca brilhara tanto e o céu nunca havia estado tão limpo. E a menina percebeu que as ruas pelas quais passou estavam vazias simplesmente porque era domingo.
O leitor deve estar se perguntando o que teria acontecido para que a felicidade da menina se esmigalhasse de tal maneira. Não, caro leitor, você não terá sua pergunta respondida. Não me tome por antipático ou algo assim. É que essa estória não é sobre o fato, mas sim sobre o antes e o depois. Afinal, o que realmente importa é o estado em que ficamos quando passamos do Nirvana ao Reino de Hades; do brilho de uma espada à dor do seu corte. O resto, no fim das contas, são os mesmos fantasmas, sempre.